Sentou na mesa, pegou um caderno e uma caneta, pegou uma xícara de café e quis dar uma de escritora. Pobre coitada, mal sabia que ficaria meia hora lá sem idéia alguma.
Pensou em fazer um texto sobre suas férias, mas o que iria contar? Suas férias eram tediosas, resumidas a sono e computador.
Pensou em escrever um conto de amor, mas se quisesse escrever um conto, teria que ter criatividade, algo que não é seu ponto forte.
Um conto de ação, talvez? Não, ela não gostava dessas coisas. Hmm, comédia? Sim, ela adorava isso! Mas achou melhor não, quando tentava ser engraçada, acabava sendo bem sem graça ao ponto de desapontar Sergio Mallandro.
O lixinho do seu lado já transbordava papéis amassados, rascunhos de um texto fracassado, mas ela não desistiria fácil assim. “Vamos lá, cérebro, se esforce, você consegue” dizia ela para si mesma, como se fosse ajudar em algo.
Ela pensou em escrever sobre assuntos cotidianos, como escola. Mas sabia que se comessace a escrever sobre a sua escola, entraria em um exaltado estado de raiva misturado com ódio.
Quem sabe falar sobre sua banda preferida? Esse era um assunto perfeito! Só havia um pequeno problema: ela não sabia qual era a sua banda preferida. Seu gosto musical mudava na mesma frequência que trocava de roupa. Se fosse fazer um texto sobre sua banda preferida, iria ficar horas a fio tentando escolher uma preferida, e sabia que no final não acharia. Desistiu da idéia.
Entrou uma leve brisa pela janela que estava do seu lado, então pensou em escrever sobre o calor à la “rio 40 graus” que fazia em sua cidade, mas calor era um assunto sem graça, desagradável e coisa de quem quer puxar conversa em elevador.
Sobre o que escrever? Havia uma alternativa simples: não escrever. Porém, ela queria escrever, senão não dormiria. Tantos assuntos, poucas idéias. Ela já estava desistindo quando teve um assunto para seu texto: a falta de assunto! Isso mesmo, a falta de assunto tornou-se o assunto de seu texto. Irônico, não? Mas tantas vezes permanecer sem assunto é melhor do que ter assuntos banais.
E como seu texto era sobre a falta de assunto, não tinha muito o que escrever. E então ela leu tudo que havia escrito e pensou: “nossa, o que eu fumei quando escrevi isso?” Haha, talvez tenha sido o café que havia tomado no começo. Era um texto sem sentido, mas quem liga? Há tanta coisa sem sentido que somos obrigados a ver diariamente. Sentou-se então na frente de seu computador e, acompanhada de uma xícara de leite regada a Ovomaltine, digitou toda a presepada que havia escrito e publicou em seu blog na esperança de que alguém lesse aquilo.
Depois? Bom, depois ela foi tentar escrever algo decente, mas desistiu cedo e foi dormir ao som da chuva que caía do lado de fora de seu quarto, na esperança de que tivesse algum sonho que a inspirasse para escrever algo que preste.